terça-feira, 28 de julho de 2015

PRESOS


Prezamos por não sermos presos
Predigamos uma liberdade carcerária
Interpelamos nossos grilhões urbanos
Vãs visões de um imaginário contemporâneo.

Assistimos o choro de mães desmamadas
Contemplamos a tristeza de pais despaternalizados
Vislumbramos a angustia de jovens desvirtuados
Vã geração em grilhões de suas próprias ambições.

Cantamos as antigas melodias da infância
Brincamos com as memórias de tempos de rua
Saudamos as rizadas sem sentido que davam sentido a vida
Vã consciência a sufocar na expectativa das amarras do hoje.

Duvidamos da existência da bondade humana
Interrogamos a futilidade do que nos define
Afirmamos a convicção de nossas dúvidas
Vãos soluços de uma algemada temporariedade existencial.

Presos da liberdade de redes sociais
Gente de conexões capitalistas
Humanos de virtualidade fotográfica
Vã existência de perfil.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]

segunda-feira, 20 de julho de 2015

CORAÇÕES NA CONTRAMÃO


De longe se vê a esfinge desta insignificância democrática
Bravura de gente de não sabe pensar além de si
Gesticulações de desfile carnavalesco da consciência
Gritos de revolução sem absolutamente nenhuma evolução.
Somos frutos de um recapeamento da esperança.

Nas plenárias educacionais se ouve os gemidos triunfantes
Celebrações do fracasso coletivo de uma nação sem noção
Motivo de júbilo ainda que desvirtuoso
Vencer! Mesmo que faça todos perder, sem entender.
Somos frutos de uma pavimentação do horror.

No amor não se tem mais enraizamentos a fim de florescer
No caminhar não interessa mais aonde se quer chegar
Na paisagem as estatuas parecem ter mais vida do que nós
Nas sementes se escondem escolhas encubadas, a morrer.
Somos canteiros em ilhas asfálticas a esperar.

Há tanta gente na contramão que não sabemos mais o sentido
Seguimos um rumo, sem prumo, porém convictos de ir em frente
Olhamos para trás e vemos o que nos traz a avenida
Sacolejamos nossas paixões por pura convicção do vazio.
Somos placas sinalizadoras que insiste: “devagar”.

O que somos em tantas metamorfoses multifacetadas
Petrificação de mobilidade que vai se esvaindo pouco a pouco
Sem perceber, pouco entender, mais muito entreter
Caminhamos na contramão dos que estão na contramão.
Somos corações betumizados a pedir carona.

[por Vinicius Seabra | escrito no outono de 2015]