VAIDADE

Os espelhos podem enganar

E ao se olhar pode se admirar

Futilidade existencial de reflexos

Ostentação de sorrisos ensaiados

Jactância de estima narcisista

Brevidade de convicções medíocres

Certezas inglórias entronizadas

Visibilidade de parecer ser

Indisponibilidade de enfim ser

Dedicação ao nada que em tudo se faz

Esforço inútil de vidas utensiliarias

Cansaço desmedido em causas não causais 

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

BRASIS HOMOGÊNEOS

Numa aldeia global vivemos
Então nos perdemos

Massacramos nossas culturas
Por um pouco de bufunfas

Ridicularizamos os da vila
Construímos mundos de argila

Queremos ser iguais aos da tv
Para tudo enfim perder

Viver numa encenação televisiva
O que não se consegue ser na densa vida 

Não precisamos ser produtos homogêneos
Pois não saímos de uma linha de produção de gêmeos 

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

TRAVA-LÍNGUA

Alguém sabe por que os três tigres estavam tristes?

Acho que por causa dos três pratos de trigo

Afinal para que pratos de trigo para tigres tristes?

Será que tem algo haver com o sabiá?

Entendo que o sabiá não sabia

Mas estou a duvidar se sábio sabia

Afinal o sabiá não sabia assobiar?

Tigres, sabiás, agora ratos?

Não era um rato, era “o” rato

Pois roer a roupa do rei de Roma é raro

Será que a rainha ficou a enraivar?

Tigres tristes por causa do trigo,

Sábios a observar sabiás,

E ratos a corroer os reais,

Trava-língua prosopopéico paródico de mim

  

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

LIVROS

Páginas pioneiras do meu ser

Jangadas do saber que atracam meu querer

Foice que desbrava minha ignorância

Instrumento de arar minhas escolhas

Letras que escrevem minha existência

Frases que guiam minhas razões

Títulos que me despertam da mediocridade

Capas que embelezam as estantes da minha alma

Livros! Pequenos ou grandes

Livros! Coloridos ou monocromáticos

Livros... Vivos! 

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]

“ZOTRO”

Os “zotro” vive conozotros 
Caminha solitário
Pois igual a ele não a zoutro 

Os “zotro” sabe de tudo dos outros
É amigo de todos
Acaba sempre levando a culpa do outro

Os “zotro” vive com os zoí no “c”
É detetive da verdade
Para tudo sabê 

Os “zotro” não é de aparecer
Mas antônimo do anônimo o é
Contraditório, para ao fim, ser o tal "zotro"

[por Vinicius Seabra | escrito no verão de 2013]